Postado em Pesquisa Teatral

André Garcia – Primeiras Impressões

Como dito anteriormente, nesta primeira etapa fizemos um estudo histórico e conceitual, uma espécie de recapitulação, do pensar sobre a arte teatral, do pensar sobre os conceitos, de lembrar que pensamos hehehehe Essa etapa nos foi de grande importância por diversos motivos.

Arte é algo muito vasto. Refletir sobre seu significado amplo, seu significado em nossa época, nos reinsere em campos em que queremos trabalhar/estar. Passamos por diversos momentos nesse estudo: momentos de leitura conjunta e discussão de textos pré-selecionados (vide bibliografia ao final deste trecho), discussão de textos e vídeos trazidos pelos atores também, cada um contribuindo com uma peça que achasse conveniente e eficaz na ampliação de nossos horizontes. Os textos foram variados e de muita qualidade, visando promover o debate e o fomento à pesquisa.

Os primeiros vieram abordando dois aspectos importantes: linguagem teatral e momento histórico, do teatro feito na Grécia antiga e em Roma. Por mais distantes que estejamos destas formas teatrais, lá estiveram importantes pensadores de nossa arte, e de lá recebemos ecos das origens divinas e humanas do trabalho do ator. Como também já disse, não é o caso de reproduzirmos formas ou estilos, mas de conhecer melhor o que foi feito, entender a procedência até para verificarmos nossa própria posição hoje em dia.

Depois, textos sobre o teatro moderno e contemporâneo, sobre as artes em geral, de fontes já tão validadas: Peter Brook, Jerzy Grotowski, Constantin Stanislavski. Também não queremos reproduzir seus conceitos ou formas na íntegra, mas nos enriquecermos, colhendo elementos que nos interessam no nosso modo de fazer. Nos é caro entender por onde passou a história do teatro, ver como estes teóricos e práticos foram geniais em não se conformarem com a tradição, e procuraram o “seu” modo de ver e fazer teatro. Saber da história deles e conhecer o trabalho que fizeram enriquece qualquer ator interessado. O localiza, e o torna mais disponível e mais humilde também.

Também inseri textos sobre estética, me apoiando em Humberto Eco, que tão bem desenvolveu sua pesquisa relacionada ao Belo e ao Feio na história das artes. Para além da aparência das formas, um estudo enriquecedor para o entendimento da importância de uma essência primeira na criação de uma obra de arte. Vimos também pensamentos bastante libertários de conceituação de arte na “História da Arte”, do Gombrich, verdadeira bíblia no assunto. Ao mesmo tempo, para conter os ímpetos, a entrevista com a artista e pesquisadora Avelina Lésper sobre arte contemporânea.

A filosofia não poderia ficar de fora, portanto excertos de Aristóteles (A Poética) e “A República” de Platão também foram estudados. E por fim, textos importantes falando sobre o florescimento do teatro brasileiro no século XX, contando a história das fundações e do trabalho da Escola de Arte Dramática de São Paulo, o Arena, o Teatro Brasileiro de Comédia, o Oficina, e o CPT de Antunes Filho, dando aos atores um panorama da herança que nos é legada, a da continuidade do trabalho sério em fazer teatro.

Em conjunto com todo esse material, vimos vídeos e documentários de diversos tipos: entrevistas com nomes importantes (Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, Bárbara Heliodora, Gerald Thomas, José Celso Martinez Correa, Paulo Autran, Jerzy Grotowski, Regina Casé e Hamilton Vaz Pereira, Clarice Lispector, Maria Alice Vergueiro) que falaram sobre o teatro e sobre as artes, abrindo os atores para percepções articuladas e variadas à respeito da atuação e do trabalho sensível com as artes. Documentários e cenas de outros também, sobre o Teatro Oficina (“Evoé” e “O Banquete”), sobre montagens teatrais e de dança diversos (Pina Bausch, Momix, La Veronal, Sankai Juku, Akram Khan, Pilobolus), além do documentário “Home”, de Yann Arthur Bertrand, que tem temática que interessa aos estudos do Grupo para sua próxima montagem, “Terra”. Vimos também o documentário sobre os dias de realização do Festival de Woodstock, levantando questões sobre as relações de arte com política e com transformação social.

Enfim, foi um bombardeio de boas fontes (risos), para clarear nossa posição, o tempo em que trabalhamos, a liberdade que temos, o volume de conhecimento que podemos acessar, e a pluralidade viva e transformadora das artes, a importância dessas manifestações em toda a humanidade.

Pedi após isso tudo que os atores refletissem sobre o que viram e ouviram, que falassem sobre o que os toca. Por isso essa primeira parte é muito livre em termos de forma e de motivação, porque é bastante pessoal. O resultado? Cabe a vocês conferirem o que pensam os atores nos textos que eles publicam aqui. A partir desta primeira etapa publicaremos, de forma mais metódica, a aplicação de exercícios práticos, que demandarão explicações do processo, e cada um deles vai lhes narrar como recebeu e praticou o que lhes está sendo ensinado. Também a partir da segunda publicação, fotos e pequenos vídeos acompanharão os textos de todos.

Enfim, espero que para nós e para vocês esta pesquisa seja fonte de compartilhamento de nossos melhores esforços.

Aqui alguns dos textos estudados:

 

CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro. São Paulo: Fundação Editora da UNESP,1997.

EURÍPEDES. Orestes. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.

ECO, Umberto. História da Beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004.

____________. História da Feiúra. Rio de Janeiro: Record, 2007.

HELIODORA, Bárbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva, 2001.

GOMBRICH, Ernst Hans. História da Arte. Editora LTC: 2000.

GROTOWSKI, Jerzy. Para um Teatro Pobre. Brasília: Teatro Caleidoscópio e Editora Dulcina, 2011.

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.

STANISLAVSKI, Constantin. A preparação do ator. Rio de Janeiro: Ed Civilização Brasileira, 2001.

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2011.

BROOK, Peter. Avec Grotowski. Brasília: Teatro Caleidoscópio e Editora Dulcina, 2011.

PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2002.

Bravo Entrevista. Ed D’Avila, s/d.

GUINSBURG, J. Diálogos sobre Teatro. São Paulo: EDUSP, 1992.

Em breve disponibilizaremos links com indicações dos vídeos e documentários assistidos tb. Abraços!

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