Postado em Pesquisa Teatral

Magno Telles – Primeiras Impressões

Como aluno do Curso Bacharelado de Artes Cênicas da UnB, tornei-me amigo e admirador do diretor André Garcia, com quem desenvolvi alguns trabalhos em disciplinas do curso, além de firmar uma amizade verdadeira, baseada na admiração.

Após o término do curso, mantivemos a amizade e o propósito de um trabalho conjunto. Assim surgiu a oportunidade de trabalhar com o Grupo Domo, como assistente de direção e operador de luz do espetáculo “O JULGAMENTO”. Desde então, participo como ouvinte dos trabalhos do grupo, como no espetáculo “MANHÔ.

Agora participo como integrante no Projeto Manutenção do Grupo Domo, com expectativas de participação nos próximos espetáculos do grupo.

O projeto de manutenção é, a meu ver, uma grande oportunidade de aperfeiçoamento e estudo, buscando o aprimoramento do trabalho de ator. Os módulos foram divididos em teóricos e práticos, abrindo possibilidades no que diz respeito às potencialidades do trabalho cênico, com estudos de textos e vídeos os mais diversos (para o entendimento teórico e histórico do fazer teatral) e exercícios corporais focados na motricidade cênica (praticando aquecimento, alongamento, estudos sobre tônus, fluidez e composição corporal). Esse tipo de trabalho minucioso e que demanda tempo e dedicação não é coisa que sempre nos é fornecida, daí o motivo da importância desta oportunidade.

O trabalho do primeiro bimestre, focado no estudo teórico (textos sobre linguagem teatral, história do teatro – nacional e internacional – e das artes, entrevistas com diretores e atores), constitui um aspecto vital no trabalho do ator por se tratar de elementos essenciais, aqueles que podem nos fornecer uma base segura sob a qual construir um trabalho mais maduro. Não que a técnica e a teoria sobrepujem a prática, mas figuram entre as coisas mais rejeitadas por exigirem do ator muito tempo de leitura, de compreensão de que o trabalho em cena não se resume ao prazer de estar no palco. Na leitura de textos diversos sobre a história da arte, e na apresentação de vídeos, destacam-se para mim as entrevistas com artistas renomados (Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Dercy Gonçalves, José Celso, Gerald Thomas, Bárbara Heliodora, Jerzy Grotowski, entre outros), que trouxeram uma ampliação da visão sobre o que é o fazer teatral, contando-nos das dificuldades de suas trajetórias e do reconhecimento adquirido, na maioria das vezes, com luta e trabalho árduo.

Diante dos textos estudados, sempre me chamou a atenção “A PREPARAÇÃO DO ATOR”, de Stanislawski, com seu profundo estudo do que é representar, de quais elementos compõem a estrutura por trás do que é visto pelo público. O modo como ele investigou as motivações e métodos nos conduz a vastidão de possibilidades de trabalho cênico, o conhecimento do potencial que a preparação do corpo, da voz e do intelecto do ator pode lhe refinar como profissional. Uma leitura obrigatória e sempre muito enriquecedora do que é representar.

Dentre os vídeos apresentados, me tocou o que mostra histórias sobre a TROPICÁLIA.  Esse movimento artístico cultural, do qual eu pouco conhecia, foi de grande importância não só no meio teatral, mas artístico em geral, bem como sob o aspecto político, por representar um total posicionamento de rebeldia e libertação da opressão da ditadura militar. Surpreende-me que apesar de o país ter vivido isso há não muito tempo, já hoje em dia sabemos tão pouco desses movimentos, apesar de desfrutamos de muitas conquistas de pessoas (e artistas) tão importantes e tão conscientes do seu papel. Para muitos desses artistas, sua arte não era apenas para enfeitar galerias e palcos, mas era sim sua voz, pessoal, política, intelectual. Graças a movimentos como esse hoje exercemos nosso trabalho com grande liberdade, muitas vezes sem o mínimo conhecimento de que um dia foi conquistada por pessoas, muitas delas ainda entre nós atualmente.

Dentre as discussões levantadas gostei de perceber as diferentes formas de abordagem e realização do fazer artístico, sempre com o objetivo de ampliar horizontes, sejam eles pessoais, políticos, artísticos e culturais. Em todas as discussões ficou claro que esse fazer artístico sempre foi, é, e sempre será um importante instrumento de aprendizado de um povo no seu dia a dia, porque aquilo que é feito nas artes diz muito sobre seu tempo, sobre a condição do ser humano, e é o reflexo da cultura, do sentimento, do saber de cada grupo na passagem pela terra.

Com os estudos realizados nesse período, ficou clara a relação das artes no aprimoramento (ou não) da moral, na denúncia, na reinvindicação e no aprimoramento do ser humano em sua vivência em sociedade, bem como consigo mesmo, na busca do esclarecimento de questões humanas e sociais. Dentre todas as artes, o teatro me parece a que mais proporciona esse efeito de catarse e de aproximação entre as pessoas, de reflexão, visto que pode abranger elementos de outras manifestações artísticas, como literatura, música e imagem, além daquilo que nenhuma outra arte pode oferecer: o ator, ao vivo, se comunicando com outros seres humanos. O teatro é para mim um importante elo entre o ser e o fazer, uma maneira de transformar as formas de pensar, pessoal ou coletivamente. No contexto da contemporaneidade, teatro de grupo proporciona não só o autoconhecimento, mas também promove a troca de ideias e sentimentos, despertando o melhor convívio e o aprendizado quanto ao respeito às maneiras de pensar e agir do próximo, muitas vezes não concordando, mas entendendo o direito que cada um tem de ser como é e de interagir com os outros a partir de seu ponto de vista, com empatia acima de tudo.

IMG_0646