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Amor sem cura: espetáculo “Manhã” fala sobre diversidade e amadurecimento nas relações

Espetáculo Manhã fica em cartaz de 24 de novembro a 3 de dezembro no Espaço da Cia Armazém na Fundição Progresso

Vivemos uma época de polarizações ideológicas e intolerância. Neste contexto, o Grupo Domo de teatro acredita que, mais do que nunca, é urgente falarmos de amor. E esse é o principal tema do espetáculo Manhã, que chega ao Rio de Janeiro no mês de novembro.

Com texto e direção de André Garcia, Manhã tem como pano de fundo o relacionamento conjugal entre dois homens. A peça se passa durante uma noite na vida desses amantes. Uma madrugada repleta de surpresas e decisões, até o amanhecer. Segundo André Garcia, a relação homoafetiva faz parte do contexto da trama, mas os dramas vividos pelo casal são universais, “pois amor é sempre amor, independentemente de credo, sexo e tradição”. Para ele, a história poderia ser encenada por qualquer tipo de casal. “No entanto, a opção do grupo por um casal de dois homens promove ainda o debate sobre a importância da convivência com a diversidade, sobre a concepção de família na contemporaneidade e a necessidade do reconhecimento de direitos iguais, num momento em que camadas conservadoras avançam na política no Brasil e no mundo. Atravessamos uma crise de valores, dando mais importância a aparências e moralismos do que olhando para a realidade como se apresenta, e o próximo como fruto único da natureza, merecedor de amor e confiança, de direitos e um lugar ao sol”, afirma.

Mesmo sendo um tema recorrente na cena artística, para André, o amor é um dos temas que nunca envelhecem, pois cada geração quer viver e conhecer esse sentimento. Com a violência e o ódio tão banalizados na mídia e, até mesmo, na arte, a intenção do Grupo Domo é trazer uma referência positiva sobre as relações e sobre o ser humano acima de tudo. “O amor é a capacidade mágica de se pensar no outro, de desejar o bem do próximo e a descoberta desse altruísmo na trajetória dos personagens é o que dá o tom maior do espetáculo. Só vamos avançar no campo das relações humanas quando houver mais amor interno, pois é esta força que pode nos transformar, nos fazer sair de si para ter empatia e compreensão”.

A montagem da peça consumiu um ano de trabalho contínuo, com um processo aprofundado de pesquisa e criação que não se findou na estreia, mas continua em mutação. “O trabalho do artista cênico tem que ser, como o amor da peça, sempre lembrado e revivido, sempre redescoberto. Não ha nada de estático num espetáculo sobre esse motor que são nossos sentimentos”. A encenação tem como proposta revelar os aspectos objetivos e subjetivos dos personagens, e isso se dá por várias camadas que vão se apresentando ao longo da noite: desde memórias de cada um, até seus pensamentos, seus desejos e projeções como flashes dentro do plano real de ação, compondo atmosferas variadas, emocionais e simbólicas. Os dois atores principais são auxiliados por dois personagens “sombras”, vestidos de branco, que movimentam a estrutura cenográfica e os objetos de cena – ou até os próprios atores -, participando como sustentáculo de toda a trama. Eles são uma releitura da figura do kôken, do teatro Noh japonês, além de se tornarem personagens curinga ao longo do espetáculo.

A presença desses kôkens modernos possibilita cenas dinâmicas e surpreendentes, reforçando a encenação naquelas camadas de sentido. O clima pode mudar do drama ao humor em questões de segundos, com cortes quase cinematográficos, flashbacks, mescla de linguagens e momentos de metateatro, em que os atores conversam diretamente com o público. Segundo o ator Leudo Lima, que faz uma das sombras dos personagens principais, “há momentos em que o público não sabe se está dialogando com os próprios atores, com personagens narradores ou com os amantes, vivendo o seu drama na quarta parede”. Para Leudo, essas diferentes dimensões possibilitam um jogo interessante de distanciamento e aproximação com o público, que no final busca produzir um encontro, uma vivência conjunta. “Manhã é um espetáculo para ser vivido, não apenas assistido”, complementa.

O espetáculo foi contemplado com o Prêmio FUNARTE Myrian Muniz em 2012, que levou Manhã para as capitais Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, onde o Grupo Domo atua. A peça também foi selecionada para os festivais nacionais de teatro de Taubaté e Araçatuba, no interior de São Paulo, recebendo cinco indicações a prêmios, nas categorias melhor texto, melhor figurino, melhor diretor, melhor ator coadjuvante e melhor ator revelação. Desta vez, o espetáculo passa pelo Rio de Janeiro patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, que incentiva a divulgação dos artistas de Brasília no cenário nacional. Nesta turnê, a peça já passou por Belém e Salvador e ainda seguirá para Florianópolis.

 

 

Acessibilidade

Além de disponibilizar programas impressos em braile, o espetáculo ainda promove outras ações de acessibilidade para deficientes visuais, oferecendo aparelhos de audiodescrição e uma visita guiada ao cenário, 30 minutos antes do espetáculo. Para reservar o aparelho ou agendar a visita guiada, basta entrar em contato com o grupo através do e-mail: contato@grupodomo.art.br.

Sobre o Grupo Domo

O Grupo Domo, fundado em abril de 1994 pelo ator e diretor André Garcia, vem contribuindo com a cena teatral brasiliense, desenvolvendo uma linha de pesquisa própria, baseada em um teatro autoral e reflexivo, sempre aberto à experimentação, com enfoque no constante aperfeiçoamento do trabalho físico, sensível e vocal do ator. O aspecto autoral realiza-se pela montagem de textos inéditos, escritos pelos integrantes, conferindo atualidade a cada montagem, o que permite o diálogo com o contexto estético, social e histórico contemporâneo. O viés reflexivo do grupo nasce da concepção do teatro como uma arte vasta, múltipla e comunicativa, capaz de pôr em foco aspectos de nossa condição social e humana, fazendo de nosso teatro nossa voz artística e não apenas mais uma encenação entre tantas, proporcionando entre nós e nossa platéia um encontro e uma experiência a ser sentida e pensada. Além de performances diversas, o Grupo tem no currículo os espetáculos O Grito (1995), O Grande Dormitório (1998), As Lavadeiras (2000), Dos Anjos e de Todos Nós (2003) e O Julgamento (2008).

Ficha técnica “Manhã”

Direção/ Texto: André Garcia
Assistente de direção: Leudo Lima
Elenco: André Garcia, Bruno Estrela, Leudo Lima, Guilherme Victor
Iluminação: Manuela Castelo Branco
Cenários/ Figurinos: André Garcia

Serviço

“Manhã”- espetáculo teatral Grupo Domo
Data: 24, 25 e 26 de novembro | 1, 2 e 3 de dezembro
Horário: de sexta a domingo, às 20hs
Local: Espaço da Cia Armazém na Fundição Progresso (Rua dos Arcos, 24, Centro, Rio de Janeiro – RJ)
Ingressos: R$20,00 (inteira)
Classificação Indicativa: 16 anos.
Contato: contato@grupodomo.art.br / (61) 99408-1000

Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/373437073086079/