O primeiro espetáculo do Grupo Domo foi “O Grito” (1995). O título foi dado por dois motivos: o primeiro, para marcar a estréia de nossa jornada teatral, assim como nas orgias dionisíacas o brado de Evoé era o marco inicial, chamando ao entusiasmo, ou seja, etimologicamente, a entrada do deus. E o segundo motivo tem ligação com o s temas tratados em cena, num conjunto de oito, que se referiam a um alerta, uma rememoração de coisas que consideramos caras e perdem sentido entre as banalidades, e coisas banais e/ou vis que passam a se tornar importantes. Era, em suma, um grito manifesto em suas origens e potencialidades, um grito de prazer, um grito de fúria, um grito de dor, um grito de alegria, dependendo da cena.
O Grupo estava em sua primeira formação de elenco, que foi composto basicamente por alunos das oficinas de criação, estabelecidas a época no mesmo espaço onde os seus fundadores se conheceram por conta da realização do projeto OFICENAS alguns anos antes, prédio que hoje sedia o centro de dança do distrito federal.
Ali, atores e bailarinos contribuíram para a concretização deste primeiro trabalho, que passou por um ano de maturação, entre 1994 e 1995, e estreou no Teatro da Caixa, fazendo também outras temporadas em Brasília. Em sua estréia, o Grupo procurou já firmar um direcionamento maior em termos ideais, mesmo filosóficos, do seu fazer teatral, e com isso foi ao palco com um trabalho muito corporal, fazendo uma miscelânea de textos consagrados com textos do Grupo, e fundindo o tanto quanto possível a dança e o teatro. Muitos elementos desta peça influenciaram o que anos depois se tornaria o espetáculo “O Julgamento”.
O conceito geral era o de revelar nuances de assuntos nos quais o Grupo Domo estava interessado, criando, em forma de esquetes entrelaçadas, um fio condutor que mostrasse aos espectadores a que veio o trabalho, o Grupo em si. Nas críticas aos ditos infames da sociedade e nas apologias ao amor e a verdade, o Grupo Domo deu seu primeiro grito, de anúncio da sua fundação.
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