Postado em Pesquisa Teatral

Preparação corporal – Primeira Fase

No estudo teórico tivemos um panorama sobre as artes e o papel do teatro em contexto, além de estudar sobre os desdobramentos do fazer teatral e o recorte histórico básico. Esse conteúdo contribuiu para a compreensão e conscientização do trabalho teatral prático. Pouco adianta não pôr em prática e não vivenciar o que foi estudado (uma enciclopédia de teatro diz muito sobre ele, mas não é ele), assim como trabalho corporal sem conhecimento do aparato teórico que o fundamenta empobrece o resultado, porque se torna apenas entretenimento ou apelo a boa forma, e isto é muito pouco criativo.

A transição para o trabalho corporal é de suma importância para a compreensão global do que já foi estudado, sendo assim, há um duplo enriquecimento tanto da parte teórica quanto da parte prática, ambos importantes aspectos de preparação do ator. Mesmo que a princípio as práticas corporais desenvolvidas não toquem diretamente no que foi estudado, esse trabalho vai se desenvolvendo gradativamente e as partes vão se juntando e começando a fazer sentido, como a montagem de um quebra-cabeça.

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Primeiro “acordamos o corpo”, saimos do estado de estagnação e despreparo físico e organizamos suas estruturas para então estarmos hábeis a desenvolver através da consciência corporal a capacidade de moldar o movimento conforme convir. Partindo da biomecânica do movimento aliado aos aspectos psicofísicos que a constituem forma-se o gesto e sua intenção. Para isso o ator precisa ter disponibilidade física.

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Grosso modo o corpo do ator precisa estar disponível para poder viver diferentes personagens. É o material criativo do ator que ele manipula ao andar, mover-se, falar, ouvir etc. O corpo do ator é parte constituinte da obra. E ele deve estar preparado para ser moldado de acordo com a necessidade da personagem, respeitando as limitações e explorando as especificidades de cada corpo.

No contexo de um grupo teatral, além dos aspectos gerais acima esboçados, o trabalho corporal permite que os integrantes estejam, até certo ponto, no mesmo nível de trabalho, o que facilita a interação e o desenvolvimento conjunto do que é proposto. Mas as diferenças também podem ser enriquecedoras, porque a experiência e a prática de um servem de estudo ao outro. Trabalhar em conjunto é mais motivador e proporciona momentos de integração e afinidade entre as pessoas.

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No meu corpo o processo de desenvolvimento corporal ao longo dos exercícios que viemos praticando tem refletido de maneira positiva, apesar de ter a sensação que ele responde mais lentamente aos estímulos; sei que o processo é lento, mas tenho a impressão de que no meu caso ele se arrasta, devido ao sobrepeso e por ser o retorno após um período de quase quatro meses sem realizar atividades físicas em decorrência da crise inflamatória causada pela condropatia patelar no joelho esquerdo.

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Assim, os exercícios colaboram para que eu tenha uma recuperação ainda mais plena, já que estamos realizando exercícios de pouco impacto articular, mas de grande trabalho muscular, que resultará no corpo forte, preparado, sem danificar ou machucar os ligamentos e as fibras musculares. A forma como os exercícios se classificaram, partindo do aquecimento para então fazermos alongamento e em seguida o fortalecimento do tônus, permitiu que a potência física fosse explorada num crescente.

Os exercícios de aquecimento potencializam a circulação sanguínea, fazendo com que as articulações sejam irrigadas e lubrificadas, evitando assim que haja desgaste ao longo do exercício posterior – o alongamento, que proporciona movimentos maiores das articulações ao esticar os músculos que as circundam encurtados pelo desuso do corpo a que estamos acostumados no dia a dia.

O corpo flexível pode explorar mais movimentos e formas, mas ele também precisa ser forte. Para isso começamos os trabalhos de fortalecimento do tônus muscular. Além de força, o trabalho muscular colabora para que as articulações não sejam sobrecarregadas ao longo dos exercícios.

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A união dessas três modalidades de exercícios proporciona um corpo forte e flexível, criando assim a já citada disponibilidade do corpo, com maiores possibilidades de exploração de gestos e expressividade, deixando-o apto a realizar movimentos e formas que vão além dos hábitos e costumes.

Para mim os exercícios de aquecimento foram difíceis no começo. Saindo de um estado de completo sedentarismo, tinha a sensação de que não iria muito longe, porém com o tempo é possível sentir a resposta do corpo ao exercício e adquirir condicionamento físico. Os três exercícios para o abdômen: sustentação na lombar, sustentação nos glúteos e o de suspender as pernas foram os que mais surtiram resultados no meu corpo. É perceptível durante esses exercícios o trabalho forte e intenso nos músculos do abdômem. O exercício da prancha deixou clara a minha falta de trabalho nos músculos superiores e a pouca potência de sustentação dos mesmos.

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O Eagle Cross é um dos poucos exercícios que não é apenas de sustentação e tonicidade, mas também aeróbico, é um exercício que esquenta rápido e proporciona uma grande atenção com a respiração e o equilíbrio.

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Os exercícios de aquecimento geram a capacidade de organizar onde será concentrado o trabalho muscular, evitando que para diminuir a dor e o esforço criemos compensações, usando outros músculos e afins. Até aqui, não parece que me refiro a exercício de aquecimento exatamente, pois só falei de trabalho muscular, mas todos esses geram calor e as consequências desse aumento de temperatura também são sentidas, além de que o corpo permanece aquecido por muito mais tempo. Além do calor e do suor, sinto que fica mais fácil me mover e realizar os exercícios de alongamento e de tônus com menos dor e mais potência.

Já nos alongamentos, novamente comecei descrente com a resposta do meu corpo. Só assim para percebermos como o nosso estilo de vida nos enrigece e atrofia movimentos que nacemos capazes de fazer. Essa parte do alongamento foi uma redescoberta das possibilidades do meu corpo: até onde eu vou, porque não consigo ir além, onde devo trabalhar para obter maior abertura em determinada articulação e etc. Aos poucos vou me despedindo da pessoa de 20 anos com corpinho de 60.

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Dentre os exercícios de alongamento os realizados no chão me são mais eficazes, como o do arado que é eficaz e não causa tanta dor como os demais. Todos os alongamentos que trabalham os músculos da região coxofemural são os mais difíceis e doloridos e claramente os que tenho que trabalhar mais para superá-los. Dentre esses o que eu mais me adaptei é o que seguramos as pernas abertas deitados no chão (o leque aberto). Ele força a abertura e é mais fácil de lidar com a resistência natural de contração do músculo quando esticado que acontece nos demais exercícios e que é complicado de lidar.

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No caso dos exercícios para o fortalecimento do tônus muscular, meu corpo já estava mais apto para ser trabalhado, então a resistência inicial foi menor.

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Ter as estruturas musculares buriladas e polidas tem colaborado para minha recuperação do problema nos joelhos e para o melhor desempenho do meu corpo num geral. Os exercícios que mais impactaram no meu corpo são os da barra que tocam na região menos desenvolvida que são músculos do braço e antebraço.

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Essas três etapas têm construído uma boa base de preparação do corpo e desenvolvimento da consciência corporal e sinto que com o tempo terei uma melhor disponibilidade física e um melhor desempenho.